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RP Boo

Pioneiro na criação, disseminação e avanço do footwork, RP Boo poderia bem ser apenas uma figura tutelar do género, a colher calmamente os louvores sistémicos do estatuto. É, como se topa no título do seu último álbum, um artista Established, mas ao invés de sucumbir ao torpor, continua a descortinar novas formas de manipulação genética da música que ajudou a inventar em Chicago. Todo o respeito e admiração que lhe são dados a serem continuamente atiçados pela sua inquietude e visão profética, desde que surgiu ao lado de nomes DJ Spinn, Traxman e o saudoso DJ Rashad em Bangs & Works, compilação vital lançada pela Planet Mu que sacou do obscurantismo regional toda uma música prenhe de urgência a que o próprio ia dando forma desde os anos 90. Chamar o seu primeiro álbum de Legacy fez todo o sentido, dado tudo o que já vinha de trás. Desde então, e sempre ligado à Planet Mu, lançou mais três discos onde baralha as premissas bases do footwork – a síncope rítmica tensa, a velocidade dos 160 bpm, subgraves, sampling vocal herdado do hip hop - em novas formas, sem nunca cair na experimentação obtusa. Mesmo quando corta as vazas à formatação rítmica ou aterra linhas melódicas disruptivas, subsiste uma abordagem muito pura e intuitiva, que apela a uma ginga no limite da vertigem. Nos seus sets, o risco e a dança alinham-se num mesmo plano, conduzidos com mestria e uma felicidade que irradia.