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claire rousay

Biblioteca Municipal
18h15
8 Out
No panorama tantas vezes mimético na actual música ambient, é rara a figura desses meandros que deixa algum tipo de marca pessoal vincada. Originária de San Antonio, Texas, e adepta de uma abordagem quase diarística à composição, claire rousay tem-se demarcado do marasmo de pads e, acto contínuo, arrumado a seu ritmo um canto especial no espectro das músicas mais contemplativas. Como quem dá livre passe aos instintos mais voyeurísticos da “audiência”, para que esta se reveja nessa mesma diligência. Naquele limbo sempre complicado entre a realidade e o sonho, sem se deter em algum desses estados, deixa que estes se introduzam mutuamente em temas (geralmente) longos e de labor minucioso, mas nunca abertamente cerebral. Prenhe de emoção e auto-referências, a música de rousay fisga as ruminações do dia-a-dia – voicememos, gravações de campo, murmúrios, conversas, etc – para as dotar de novos significados, em enredos imaginários com cordas, piano e texturas electrónicas que tanto podem ser dronescas como evocativas da hyperpop no proveito transcendental do autotune – a softer focus não tem vergonha de o assumir. Títulos como sometimes i feel like i have no friends ou everything perfect is already here são indicadores dessa mesma honestidade, mapeada numa espécie de cartografia onírica mas sempre reveladora, estranhamente táctil na sua intimidade.