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Sereias

“Recomecemos tudo de novo” é tanto o grito de entrada no novo disco Sereias, como manifesto de intenções contundente da banda após as declarações bem marcadas de O País a Arder de 2019. Segundo álbum deste combo portuense, cujas aparições ao vivo têm deixado as mazelas necessárias para agitar o torpor do estado rock luso, o disco homónimo editado já este ano pela Lovers & Lollypops expande o som sujo e marcial da banda mantendo o mesmo nervo e acutilância.  Conduzido pelas palavras de António Pedro Ribeiro, a debitar verdades de café e lírica quotidiana com o engenho dos poetas, o som de Sereias é um concentrado sujo e repetitivo de linhas de baixo pulsantes, guitarras dissonantes, sopros planantes, estalos de sintetizador e ritmos minimais numa linha que vai dos surtos mais agrestes dos Faust à psicose urbana do pós-punk, com um trato muito psicadélico na forma – como que a unir Gong e This Heat num mesmo fôlego – e uma certa “tradição” portuguesa contestatária e literária que parecia irremediavelmente perdida mas que encaixa na perfeição na aura do Barreiro.