20 anos de OUT.FEST

A percepção do tempo é uma parte integrante dos atos de criar e ouvir música. Muitas das músicas que foram fazendo o OUT.FEST, em especial, são mecanismos de subversão da passagem do tempo e dessa nossa percepção – quanto tempo durou este concerto? 15min? 1 hora? 3 horas? A resposta de cada um depende de muito mais que o facto mensurável. Medimos o tempo de um concerto sobretudo pelos sítios onde nos leva, pela forma como nos altera a consciência, a quantidade de pensamentos que vão e vêm sem nos darmos conta, a ausência de pensamento, a atividade do corpo enquanto escuta, pelas distracções à nossa volta.

Os factos dizem-nos “20 anos”, mas as nossas percepções (e/ou a nossa memória dessas percepções) podem dizer-nos, ao mesmo tempo, “10 anos”, “5 anos”, uma vida inteira, ontem. 

A verdade é que sim – em 2004 começámos uma coisa chamada OUT.FEST que não terá sido mais que uma tradução impensada de um impulso muito nosso, e de tantos, para partilhar música que amamos, que achamos que todos deveriam amar, que tantas vezes não compreendíamos como não era amada universalmente; desse ano 0 até ao 2024 em que estamos pouco mudou e tudo mudou – o impulso persiste, mas foram-lhe sendo acrescentadas identidade, idéias, formas de fazer e desfazer, palavras para comunicar, sensibilidade, amores e desamores pela cidade que o fez, dificuldades e o privilégio de as poder ultrapassar, público, a própria Música, o próprio Ouvir, o Mundo todo que é o de sempre e é todos os dias novo.

Aqui, então, em 2024, para a 20ª edição do vosso OUT.FEST. Assinalamos a efeméride, primeiro, pela continuada dedicação aos Sons que continuam a fascinar-nos – nada importa mais que esta vontade de partilhar e lançar para a descoberta, honrando a confiança que ano após ano vai sendo depositada nos nossos Ouvidos; depois, lançando-nos na fixação deste fragmento da História em forma escrita, com um livro comemorativo que, tal como neste percurso de duas décadas, se construiu sem horizonte fechado nem plano pré-definido; ainda com a ocupação do espaço mais central da cidade por fotografias da “nossa” Vera Marmelo – uma por cada ano de festival já realizado; por fim, com um regresso ao nosso epílogo dominical, desta vez ampliado como festa de aniversário plural e curiosa, no melhor espírito do Barreiro que nos construiu e que vamos, à nossa maneira, celebrando e homenageando a cada ano.

Esperam-nos 5 dias de Músicas que não se explicam – partilham-se. Venham connosco.